sábado, 17 de fevereiro de 2024

O ROMANCE DA ALMA WELT TEM FUTURO INTERNACIONAL!

Pessoal! Recebi este e.mail da grande Editora EUROPE BOOKS do Reino Unido, que sópublica em inglês e distribui pelo mundo todo. Esta Editora é antiga e já publicou até um prêmio Nobel de Literatura. Como traduzi inteiro para o inglês, eu mesmo, o meu romance A Herança: O Sangue da Terra, de Alma Welt (The Heritage: The Blood of the Earth) e havia enviado a eles há um mês atrás, agora acabo receber a aceitação deles com este e.mail que traduzi do inglês:

Prezada AlmaWelt

Estamos escrevendo para você depois de ler com interesse seu trabalho, A HERANÇA: O Sangue da Terra, que você submeteu para revisão a nossa editora e nos deixou uma forte impressão. Nós somos convencido de que seu trabalho está pronto para fazer parte de nossa publicação projeto de lançamento de novos autores.
Graças a uma abordagem editorial que coloca o trabalho intensivo e meticuloso promoção de trabalhos publicados no centro de nossas estratégias, temos alcançou uma posição de liderança entre as entidades do setor. Este sucesso permite operarmos internacionalmente, alcançando públicos no Reino Unido,
Estados Unidos, Canadá, Austrália, África do Sul, Espanha, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Portugal. Nossa rede de distribuição abrange 100.000 livrarias.
Os catálogos de nossas diversas marcas apresentam nomes de destaque no mundo da literatura, como Ken Follett, Amélie Nothomb, Laura Gallego García, e o poeta ganhador do Prêmio Nobel Octavio Paz, para citar alguns. No entanto, isso não nos impede de dedicar uma parte significativa de nossas estratégias para o lançamento de novos autores, que continuam a ser a pedra angular e força da nossa linha editorial.
Abaixo está o link para nossa plataforma web contendo informações úteis sobre nosso projeto editorial, juntamente com uma cópia do documento editorial contrato que gostaríamos de lhe propor. Como você verá, a solução que criamos para A HERANÇA: O Sangue da Terra é de primeira qualidade,
envolvendo trabalho editorial minucioso (edição, diagramação gráfica), intensivo atividades promocionais (feiras do livro nacionais e internacionais, imprensaescritório, entrevistas) e um plano de distribuição tanto para o impresso com versão e-book.
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E logo enviaram um segundo E. mail

Prezada  Sra. Welt

Em nome da Europe Books , Estou escrevendo para informar que estamos interessados ​​em publicar seu romance “ The Heritage: Blood of the Earth ”.
Enviarei a você nossa proposta de publicação para publicá -lo, amanhã por e-mail.
Aqui, a seguir, delinearei alguns dos elementos da proposta, que você poderá ler na íntegra quando chegar amanhã.
Somos uma editora internacional. Produziremos o livro em edição impressa e em versão digital em e-book. A edição impressa seria distribuída em livrarias de todo o mundo de língua inglesa por grandes distribuidores, como a Ingram, a maior distribuidora de livros do mundo. O e-book estaria disponível para compra em todas as principais plataformas, incluindo a Amazon em todo o mundo, em mais de 200 sites ao todo.
Teríamos a certeza de manter sempre um certo número de cópias impressas. Nossa assessoria de imprensa promoveria o livro enviando comunicados de imprensa sobre ele às principais publicações, fazendo uma entrevista com você na TV em nosso canal no YouTube e promovendo-o nas redes sociais, bem como fornecendo-lhe um passe para uma importante feira do livro perto de você. . E eles ajudariam você a organizar eventos de autores pessoalmente ou online.
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Você retém os direitos de propriedade intelectual e os direitos autorais do seu livro em todos os momentos do contrato, bem como todos os direitos secundários, incluindo todos os direitos de tradução. E você pode rescindir o contrato conosco a qualquer momento, simplesmente enviando-nos uma carta declarando essa intenção, e nós retiraremos todas as nossas cópias do mercado, e seremos obrigados a disponibilizar essas cópias SE você desejar usá-las. (sem obrigação de sua parte). O contrato tem duração de dois anos, mas é renovável se – como quase sempre acontece – você estiver satisfeito em trabalhar conosco e quiser que continuemos vendendo seu livro. Enviamos-lhe um relatório no início da Primavera (geralmente Março) sobre as vendas do ano anterior e sobre quanto lhe devemos em pagamentos de royalties, e perguntamos-lhe então como e onde deseja receber o rendimento das vendas dos seus livros.
Para saber mais sobre nós, aqui estão alguns links que podem ser do seu interesse:
Aqui estão alguns de nossos autores mais vendidos:
https://europebooks-platform.co.uk/
Aqui está o nosso catálogo do nosso site:
https://www.europebookstore.com/bookstore/
Aqui estão nossas páginas na Amazon.com
https://www.amazon.com/s?k=europa%20edizioni...
Aqui estão nossas páginas na Amazon.co.uk :
https://www.amazon.co.uk/s?i=stripbooks&rh=p_30%3AEurope+Books&Adv-Srch-Books-Submit.x=27&Adv-Srch-Books-Submit.y=5&__mk_en_GB=%C3%85M%C3 %85Z%C3%95%C3%91&unfiltrado=1&ref=sr_adv_b
Este é um vídeo no YouTube de autores que publicaram conosco falando sobre a experiência.
https://www.youtube.com/watch?v=LzAj_LNmN7Q
E algumas resenhas de autores que trabalharam conosco:
https://europe-books.co.uk/europebooks-reviews/
Enviarei nossa proposta completa por e-mail amanhã. Clique no link desse e-mail, role para baixo para ver todas as informações e, em seguida, clique no botão que diz “Baixar o contrato”. Por favor, examine-o com atenção e deixe-me saber se há algo que eu possa explicar mais detalhadamente ou se você tiver alguma dúvida que eu possa responder.
Obrigado.
Sinceramente,
Dr. Steven Colatrella
Europe Books
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EUROPE-BOOKS.CO.UK

Europe Books Reviews – Europe Books
Europe Books accepted my first novel for publication. I'm so very pleased to have had them publish my book Beach of the Dead. They have a wonderful staff. And thank you so much to Ginevra Grasso, the marketing staff person, who has been so terrific in promoting my book and keeping in touch with me.....

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

NO FIO DO BIGODE

Quando eu tinha quinze anos e era portanto uma ninfeta, o Vati dando uma churrascada em nossa estância no dia de Santo Antonio, eu vestida de prenda, um guri de uns nove anos, filho de um estancieiro vizinho, vestido como um peãozinho e com um bigode de carvão sentou ao meu lado e disse, desenvolto: "Alma, eu te amo e vamos casar quando eu for grande. Mas tu tem que me esperar. Tu me espera?"
Eu o olhei com vontade de rir, mas só disse: "Guri, até lá eu estarei muito velha, e tu não vai mais me querer". "
Ele retrucou: " Vou, sim, eu gosto de gurias mais velhas..."
Eu olhei um pouco mais com os olhos no seu bigodinho e disse:
"Olhe, Martim, para esse acordo valer tu vai ter que assinar um contrato com testemunhas e tudo... Dá muito trabalho".
E ele:
"Não Alma, meu pai disse que entre gente honesta é no fio do bigode" (e ele passou a mão no lado direito do bigodinho, borrando-o).
Eu dei um grande suspiro e disse:
"Quando eu tiver trinta anos e te apresentares com a metade do bigode, a do lado esquerda, eu me casarei contigo. Não te esquece... do lado esquerdo, o do coração!"
E sai correndo e dando uma gargalhadinha. Na corrida dei uma ligeira olhada para trás e... vi que ele estava iluminado!
E... estranho... senti que me casaria mesmo com ele, se ele mantivesse aquele brilho...
(Alma Welt)
29/11/2007

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Se a vida me ensinou a ter algumas certezas, também me ensinou a não generalizá-las. Afinal, nas excessões reside o mistério, a inquietação e o insólito que dá sabor a nosso cotidiano. Eu sei, nas coisas mais simples da vida reside, oculta, a Poesia... Mas o olhar original é que a desvela.
(Alma Welt)
 27/11/2023

segunda-feira, 10 de julho de 2023

O ser humano não consegue se esconder atrás de palavras, porque as palavras revelam sempre a verdade e traem a mentira. "Não!"-dirão alguns- "Então por quê tanta gente é enganada pelos mentirosos?" Eu respondo: Os que são enganados têm sempre uma sutil dose de cumplicidade com os enganadores.
(entrevista com Alma Welt)

sábado, 24 de junho de 2023

"A cada pessoa no mundo só é possivel falar de si mesma. Em qualquer comentário, apreciação, crítica, ou mesmo narrativa sobre outros, nos revelamos mais do que numa confissão explícita. Naturalmente tal percepção só ocorre ao ouvinte ou leitor atento e sagaz. A maioria das pessoas volta os olhos para o alvo apontado pelo narrador. Quanto a mim, como escritora e poeta escolhi deliberadamente a confissão, evitando apenas, o quanto possível, o narcisismo. Reparem: quando eventualmente me refiro à minha beleza física é para contextualizá-la no momento em questão. Na verdade até hoje ninguém se queixou disso em meus textos, em particular no meu romance autobiográfico A HERANÇA, onde isso ocorre por força das circunstâncias dos fatos narrados. Ali contei como fui sexualmente brutalizada, e dei a entender em meu próprio Julgamento que isso ocorreu mais de uma vez em minha vida. Entretanto ali mesmo evitei vitimizar-me intimamente, pois nada podem contra o meu espírito e a minha integridade anímica. Ser mulher, ainda hoje, no mais das vezes oscila entre duas condições: ser uma vítima ou uma heroína combativa. Geralmente, pelo menos no Ocidente, podemos escolher..."

(Entrevista com Alma Welt)
24/06/2023

 Deixarmos nossa alma por escrito é um belo projeto de vida. Mas, naturalmente, só se tivermos uma alma limpa, pura, e que for de serventia. Questão de moral? Não somente. O grau de pureza estabelece o valor relativo até mesmo do ouro. "Ah!"- dirão alguns- "Então o testemunho autêntico dos maus, por escrito, não serve de nada?" Serve somente ao Mal - respondo- que por sua vez é servidor do Nada.

(Entrevista com Alma Welt)

 "A beleza feminina (ou masculina) desde os tempos de Helena de Tróia frequentemente desperta a cobiça humana... ou dos deuses (no caso de Ganimedes). Eu mesma fui vítima, mais de uma vez, em minha vida (leiam meu romance A Herança: O Sangue da Terra). Mulheres e homens bonitos, fortaleçam-se para resistir ao assédio! É só o que posso dizer... "

(Entrevista com Alma Welt)

(Discurso de posse de Alma Welt na Academia de Si Mesma)

 "Não vivemos de graça. Todo mundo sabe disso. A vida nos exige uma contínua luta pela própria vida, talvez com alguns períodos de trégua, de armistício... Em princípio, somos todos guerreiros. Assim não nos deixemos subjugar por inimigos externos ou internos. Os internos são os mais obstinados. São eles: o desânimo, o pessimismo, a auto-indulgência, a preguiça... Bah! Na verdade todos os chamados Sete Pecados Capitais, que são a enumeração clássica dos defeitos de caráter. Ah! como é fácil relativisarmos tudo, e entregarmo-nos ao fluxo modorrento da vida, rio silencioso e profundo como o próprio Estige. Mas lembremos que até aquele último rio nos exige dois óbulos: um para cada olho. Lembremos também que no Inferno podemos entrar vivos e atravessá-lo, mas não podemos, apavorados, sair retornando à porta da frente: ali estão os covardes eternamente zurzidos pelas moscas. "Olha e passa!"- nos diz um sábio guia. Só sairemos do Inferno passando pelo fundo de nós mesmos, dizendo: "Então vamos!" e avistamos então a tenda azul onde estão o sol e as outras estrelas. E o Amor que as move infinitamente..."

(Discurso de posse de Alma Welt na Academia de Si Mesma)

segunda-feira, 5 de junho de 2023

 Os escritores mais apreciados por um grande público são aqueles que transmitem Esperança. Se tu, escritor, a tens dentro de ti, percebe-se claramente no teu texto, principalmente em teus desfechos. Mas se és amargo e desencantado com a espécie humana, terás um lugar, talvez (se escreveres bem) num nicho entre os "Malditos" celebrados. Mas saiba que o "escrever bem" denuncia tua Esperança oculta, aquela que renegas, mas que permanece no fundo de ti.

(Alma Welt)

 A premissa de um prosador ou poeta é simplesmente "ter o que dizer". Para isso é preciso ter convicções, e portanto "uma visão de mundo". Mas isso só se confirma se essa visão de mundo for inesgotável como um caleidoscópio, e principalmente bela o suficiente para ser verdadeira...

(Alma Welt)

AOS NOVOS ESCRITORES DE VOCAÇÃO

Não é preciso que os outros acreditem, mas sim tu mesmo. Se te propões como escritor e publicas, deves acreditar que és tão bom escritor quanto Dostoyevsky, Tolstoi, Proust, Flaubert... do contrário, cala-te para sempre. Absurdo? Não! Por que escreverias se aqueles já escreveram? O que escreves só tu pode escrevê-lo pois do contrário a História da Literatura teria se interrompido já na antiguidade com a Epopéia de Gilgamesh, ou com a Odisséia de Homero. Escreve como se fosses o primeiro, mas lembra-te: não perguntes a ninguém se está bom. O leitor quer sentir não só autoria, mas autoridade. O Destino, mais que o público, dirá se tinhas talento ou não.
(Alma Welt)

domingo, 4 de junho de 2023

 Escrever é revelar nossa visão sobre a vida e o mundo, e não há como falseá-la. Como escritores somos apreciados quando sinceros. Se queres escrever sobre fadas, primeiro acredite nelas. Pelo menos lá no fundo, onde permaneces criança.

(Alma Welt)

sábado, 3 de junho de 2023

 Pode parecer estranho, mas de modo geral considero a vida triste, embora pessoalmente eu não o seja. É como se eu a visse um pouco de fora, como espectadora sem um maior comprometimento emocional direto. Mais ou menos como os médicos com seus pacientes sofredores, sem a veleidade de cura que eles têm, mas com a sua peculiar mistura de isenção e compaixão. Acho que é isso que faz de minha poeta. Por isso nunca pretendi modificar nada, apaixonada que sou pelo mundo triste e sua repentinas e ingênuas alegrias, bem com as de feição desafiadora, eufóricas, desesperadas... Em outras palavras: a verdadeira literatura passa longe da "auto ajuda", e pretende ser apenas a desveladora da beleza do mundo com sua imensa tristeza, bem como sua teimosa vontade de alegria..."(entrevista com Alma Welt)

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

SOBRE O LANÇAMENTO DO ROMANCE DA ALMA WELT

> Sobre o lançamento do romance A Herança: O Sangue da Terra, de Alma Welt, a ser lançado em livro de papel no dia 25 de agosto ( quinta feira próxima) na Livraria da Vila, uma curiosidade: Escrito em 2004, o mesmo ano em que lancei o livro Contos da Alma, de Alma Welt (este escrito em 2001) desta vez, com o romance, demorei 18 anos para publicar em livro de papel, talvez por uma certa inércia, ou simples falta de traquejo no mundo prático editorial. Entretanto, relendo este ano o meu romance da Alma, que eu salvara num de seus 60 blogs da Internet, congratulei-me com o meu texto (nosso), deslumbrado com o fato de que eu ainda gostei dele, e não tiraria uma vírgula, uma linha ou um parágrafo (passando incólume por nova revisão) a despeito do livro ser desvairadamente intenso e romanesco. Mas é tão verdadeiro... e tanto "eu mesmo" em minha verdadeira face, coração e alma! Sim a "Alma Welt sou eu", parafraseando Gustave Flaubert no tribunal a respeito de sua Madame Bovary, com a vantagem de que a minha Alma não é uma mulher fútil, leviana e desastrada como a personagem do romance daquele grande escritor francês. Alma Welt, como personagem realista, me orgulha, tanto quanto a escritora confessional que ela é, em estilo e vernáculo. E isso é um privilégio... Ah! Alguém de má vontade poderia dizer: "Mas Flaubert provavelmente se referia ao seu romance como obra e não como a personagem quando exclamou em julgamento no tribunal: "Madame Bovary c'ést moi! " Bem... eu poderia dizer o mesmo, em relação à " A Herança: O Sangue da Terra", o primeiro tomo de uma trilogia que está pronta inteira desde 2004, e que lançarei aos poucos... Sim , meus amigos... mas Alma Welt sendo a minha "anima" (no sentido profundo, Junguiano, do termo) é mais eu do que eu mesmo, e se eu a traísse por algum motivo ou mesmo por vaidade, ela refluiria para dentro de mim, me punindo... e sumiria, deixando-me estéril para sempre. Dramático? Sim, mas, pasmem, seria assim mesmo, e esse é o grande e único risco que corro... (Guilherme de Faria) 19/08/2022

quinta-feira, 26 de maio de 2022

O Vigilante (de Alma Welt)

O Destino, como um "Vigilante", nos observa longamente, pacientemente, enquanto nos deixa "construir uma vida", de um jeito ou de outro, à nossa escolha. Entretanto, já foi notado o caráter irônico do Destino, na sua interferência final, no seu arremate de nossas vidas, no seu humor até mesmo negro, às vezes, e quando apela para o trágico, abandonando toda a graça. Por isso sempre admirei os moribundos sorridentes, aqueles cujo último suspiro coincide com um surpreendente sorriso...

(Alma Welt)


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

CONFISSÕES DE UM HETERÔNIMO (de Alma Welt)

                           Detalhe do retrato premonitório de Alma Welt- o/s/t de Guilherme de Faria, 1992,                                                                      60x50cm- coleção Lucia Dantas, São Paulo.


CONFISSÕES DE UM HETERÔNIMO (de Alma Welt)

"No ano de 1964, o artista plástico paulistano Guilherme de Faria aprendeu de súbito a técnica zen do desenho a pincel e nanquim ao assistir determinada cena de um filme japonês de samurai. Aproveitei então o fluxo inconsciente que o artista produzia ao desenhar, para aparecer a ele como sua modelo constante, permanente, exclusiva. Ele se deleitava com a minha figura de ruiva esguia, voluptuosa e muito branca. Chamava-me já de sua musa, sem questionar quem era eu, de onde eu vinha e porque razão eu era tão recorrente e disponível. Então, na década de 70, o artista, inteirando-se (não por mero acaso) da teoria dos arquétipos, de Carl Jung, descobriu que eu era a sua a própria "anima" que me manifestava como seu modelo nu, de atelier. Eu ansiava, na verdade, a dar a conhecer a ele, e ao mundo, meus outros talentos que não só meus dons físicos "corporais", por assim dizer. Foi uma longa espera... Guilherme sabia desde a infância de seus próprios dons literários, uma vez que fora criado no meio dos livros da biblioteca clássica de seus pais. Entretanto o artista postergava sua veia literária, envolvido demais com as artes plásticas que, como profissão, provia seu sustento e da família que ele buscava formar. Na verdade, permito-me dizer que ele fracassou completamente como marido e pai de família, solitário que era por natureza, embora inconformado e cheio de sentimento de culpa. Foi então que, finalmente, em Julho de 2001, o artista, falido e sem perspectivas de sobrevivência, sentiu-se livre para deixar extravasar aquilo que ele represara por tanto tempo, sua veia literária, já que não tinha mais nada a perder. Sentou-se para escrever a sério e, inusitadamente, abriu-se-lhe um canal (por assim dizer) com o Sertão, e ele começou a escrever cordéis sertanejos cheios de inspiração. Confesso que fiquei momentaneamente frustrada... mas aproveitei uma pausa após o quarto cordel que lhe veio naquele fluxo espontâneo e admirável, e me introduzi, sim, me intrometi com uma narrativa minha, meu primeiro conto confessional, de minha fase paulistana, o conto "Lembrança Preciosa para a Alma Fiel", conto esse que surpreendeu o artista e abriu-me as portas se sua escrita... de nossa escrita. Não parei mais... Eu, a gaúcha Alma Welt, sua anima, expandi-me em Anima Mundi como meu nome indica, e tomei-o, avassalei-o com minhas lembranças. minha saga pampiana, meu amor, minhas alegrias, minha poesia, meus infindáveis sonetos, minha estância, meu Pampa, meu casarão, minha tragédia pessoal e universal..."
(Alma Welt)

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Pequenina crônica rebelde (de Alma Welt)

Sempre gostei muito da Bíblia como Literatura, como História e até como Poesia. Entretanto, não me conformo como esse grandioso livro atribui sem aparentemente perceber, tanta mesquinharia, crueldade e tirania à Deus na História Antiga, desde a Criação, para começar com absurda expulsão do casalzinho inocente, mesmo que este tenha perdido súbita e desavisadamente a inocência por uma mera tentação descrita como vinda de fora, no caso, de uma serpente por mais que esta fosse uma encarnação do Diabo. Não me conformo. Mais ainda que esse fato tenha se constituído num tal "pecado original" cuja culpa, todos nós, como humanidade absurdamente herdamos. Como se eu, brasileira, gaúcha, tivesse que pagar por um suposto crime de um bisavô meu, ou como descendente de alemães por parte de pai, tenha que pagar pelos crimes do nazismo...
Eu sei... eu mesmo disse que gosto da Bíblia como Poesia, e de poesia não é preciso cobrar lógica nem sequer coerência, só se deve cobrar beleza, força e talento, e isso a Bíblia, principalmente o Gênesis, o Êxodo, o Eclesiastes e os Salmos de Davi, por exemplo, têm de sobra. Ah! Devo também lembrar que igualmente no Novo Testamento, nos Evangelhos, extremamente poéticos e literariamente geniais nos sermões e nas parábolas de Jesus, Deus se mostra extremamente cruel com seu filho feito Homem, fazendo-o passar por aquilo tudo.
Mas quem sou eu para criticar Deus, não é mesmo? Tanto mais que, feita à sua imagem e semelhança, devo ter também cometido, não grandes, mas pequenas crueldades, que mal percebi e das quais portanto nem me arrependi. Bem... é melhor eu ficar por aqui e me calar porque posso estar blasfemando sem me dar conta e, confesso, tenho um medo que me pelo de Deus...
(Alma Welt)
19/02/2022

domingo, 7 de novembro de 2021

 7 de novembro de 2013 · São Paulo ·

"Se eu tivesse que revelar um profundo segredo sobre mim mesma, eu começaria por dizer que há algo estranho em meu caráter ou personalidade: eu penso uma coisa e o contrário sobre a mesma coisa, sempre. Assim é sobre tudo o que vejo, sinto ou vivencio. Não terei personalidade alguma? Provavelmente não. Mas me consola pensar, como John Keats, que essa é a natureza do poeta: não ter si mesmo. A identidade demasiado forte das coisas e pessoas me aniquila. Ao olhar uma estrela, sou a estrela; ao olhar uma árvore, sou a árvore, uma criança, a criança; um velho, o velho. Sim, mas o pior é mesmo a ambigüidade, os contrários simultâneos, os paradoxos da visão subjetiva. Como posso então viver em sociedade? Bem... não vivo. Não sou um ser social. Comunico-me com o mundo, isto é, com as pessoas, através da minha poesia. E nos raros momentos de sociabilidade, dissimulo pela astúcia o monstro psicológico que na verdade sou. Só o que me salva do crime é o meu amor pela generosidade e pela beleza. Talvez também pela grandeza, a verdadeira, a interior..." ( entrevista com Alma Welt)

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 (quadrinha ao gosto popular)

A vida é cheia de medos
E compensações cruéis:
Geralmente vão-se os dedos
Quando ficam os anéis.
(Alma Welt)

 A psicologia perpassa todas as ações humanas, que são regidas por suas "leis". Não da Psicanálise, tentativa exterior de ordenamento. Melhor seria dizer "a Psique" (no sentido grego) com seus princípios não propriamente morais, isto é: com seus "arquétipos". Nesse sentido, as ações humanas são previsíveis, embora não excluam, vez por outra, o insólito, em geral em forma de "tragédia". Esta é a culminância da dor humana e por isso sempre se confunde com a Morte. Entretanto, nem podemos apostar que a Morte seja um cessar ou um alívio, pois resta solucionarmos o enigma do Inferno, e até o de um Paraíso indesejado...

(Alma Welt)

 A melhor lista dos defeitos de caráter ainda é "Os Sete Pecados Capitais".

(Alma Welt)

 É sabido que o vício do cigarro comum é uma grave dependência química de uma droga tóxica, a nicotina. Nesse sentido há uma sutil deterioração do caráter do usuário ao longo dos anos. Tão sutil e lenta que em geral passa despercebida. No mínimo o indivíduo vai se enfraquecendo animicamente por estar, desapercebidamente, num estado de escravidão psíquica...

(Alma Welt)
Nota
Sei que haverá protestos e reações dos amigos fumantes. Sinto muito...

 O nosso envelhecimento não se assemelha a um castelo de cartas, que desmorona de súbito e totalmente. Assemelha-se, sim, a um castelo de areia minado lentamente pela maré. Por quê sempre um castelo? Ah! Não por empáfia ou arrogância, mas para nos conferirmos certa dignidade, certa nobreza ingênua...

(Alma Welt)

 Sonhei que estava na beira de um rio, e abaixei-me pra beber de sua água cristalina. Então chegou Deus do lado de cima do rio e me disse zangado: "Ah! Então és tu que estás turvando as minhas águas?" Tremendo eu disse: Senhor como posso estar sujando as Vossas águas se estou tão abaixo de Vós no curso do rio? E Deus, irritado respondeu: "Ah! Se não foste tu, foram os teus antepassados, que comeram a minha fruta e poluíram minhas águas..." E Deus estava quase me comendo quando eu disse: "Senhor, fui criada por Vós, não vos lembrais? Sou Alma, e me fizestes tão bela... Vais destruir a vossa obra?"

E Deus parou, olhou-me bem, e se afastou.

Uffff! Escapei por pouco...
(Alma Welt)
Claudino Nobrega

sábado, 31 de julho de 2021

 Construir uma visão de mundo é essencial para um artista pintor ou mesmo escritor fantasista, desde que essa visão seja fundamentada num forte senso de realidade. Mas o que é senso de realidade num artista? Por incrível que pareça é o simples "senso comum". Quando o artista não o perde de vista nos seus arroubos, mantendo um firme "pé na terra", isto é, na Natureza, ainda que transfigurada em seus signos, o público o reconhece. E o aplaude.

(Alma Welt)

OUTRO TRECHO DO DIÁRIO JUVENIL DA ALMA WELT

"Minha irmã Solange me persegue, como sempre. Tem ciúmes de mim, já que todos nesta casa gostam de mim de maneira tão intensa, com exceção dela e da Mutti. Como vê, meu futuro leitor, estou ganhando: tenho o voto da maioria. Entretanto, a perseguição e as pequenas maldades da Solange e a incompreensão de minha mãe me magoam, não posso negar, embora não possam fazer da minha vida um Inferno. Estou no lucro, "tenho uma boa mão" (como ouvi o Rodo falar uma vez). Meu irmãozinho querido, que enxerga a vida pelo viés do jogo do poker, tendo tão cedo o dom do blefe, que ele tentou em vão me ensinar...

(Alma Welt)

 Para escrever bem e ser lido, além de uma cultura literária sólida, fundamentada nos clássicos, basta, paradoxalmente, o escritor não perder de vista o leitor comum, desprovido dessa mesma cultura. Não quero dizer com isso que o escritor deva fazer "concessões por baixo". Simplesmente, enquanto escreve no palco, simultaneamente colocar-se numa plateia comum de si mesmo, ou nas galerias e não somente no balcão nobre...

(Alma Welt)

OUTRO TRECHO DO DIÁRIO JUVENIL DA ALMA WELT

"Hoje cavalguei minha eguinha até bem longe do casarão até perdê-lo de vista pelo ondulado da coxilha, numa pequena aventura. Nunca me senti tão livre. Mas a verdade é que me perdi e que o Galdério, mandado pela Mutti foi a cavalo com o Dobi, nosso cão farejador, ao meu encalço, me encontrou, e me escoltou de volta. A Mutti fez um escândalo no meu retorno conclamando o Vati a me punir, gritando: "Esta guria vai me matar! Ela não tem ideia dos perigos destes pagos malditos. Temos de interná-la naquele colégio em Novo Hamburgo, antes que aconteça uma desgraça por aqui!" O Vati, abanou a cabeça e disse: "Mulher, não farei isso. Basta alertá-la contra os perigos, sem escandalizá-la. Não quero que ela se torne uma mulher medrosa como tu mesma." Disse isso de uma forma tão mansa e firme, que minha mãe calou-se." Com dois homens fortes como o Vati e o fiel Galdério, nosso "faz-tudo", nesta casa, eu me sinto segura. Já o Rodo, meu irmãozinho aventureiro, piscou para mim com cumplicidade. Entendi que da próxima vez fugiremos juntos... "

(Alma Welt)

UM TRECHO DO DIÁRIO JUVENIL DA ALMA WELT

"Já me convenci de que Deus existe mesmo. Só me resta ainda começar a ter fé n'Ele. Me disseram que é mais fácil começar por Jesus Cristo, por suas inegáveis qualidades humanas, apesar de sua mística... Hoje reli os Evangelhos. Amei. Achei que Jesus era um excepcional poeta e contador de estórias. Tanto, que acho que ele era mesmo filho de Deus..."

( Alma Welt)

sexta-feira, 5 de março de 2021

O mistério das línguas... Seria isto o suficiente para comprovar a origem divina da criação da humanidade.
(Alma Welt)
Se Deus existe? Deus e os anjos são uma necessidade poética absoluta.(Alma Welt)

Comunismo

O comunismo? Nada mais perigoso que a pieguice de assassinos "bem intencionados". Sempre dá em genocídio.
(Alma Welt)

DITADOS REFORMADOS (de Alma Welt)



1. Se a vida lhe deu um limão você pode fazer uma limonada, desde que a vida lhe tenha dado também o açúcar. 2. Para baixo todos são fajutas.
3. A esperança é a última que morre porque você morre antes.

4. Cão que ladra avisa: é ladrão.

5. Mais vale um pássaro no mamão do que bicando a tua mão.

6. O seguro matou o velho.

7. Do mundo nada se leva a não ser aquele terno que você não usava mais.

8. O bode espiatório era o único que não espiava.

9. O homem não nasceu só para viver, é preciso algo mais.

10. A inveja matou quem? Abel, coitado, não Caim...

11. Há quem não consiga enganar um bobo nem na casca do ovo.2. Devagar se vai ao longe mas lá se chega atrasado.

12. Falar é prata, o silêncio é ouro, mas escolher a hora de cada um, é puro diamante.

13. Tem gente cuja boca é um túmulo, quer dizer: um sepulcro cariado.

14. A consciência é um grilo falante, mas para alguns é uma barata cascuda.

15. Atire a primeira pedra quem não tiver telhado de vidro.

16. Os últimos serão os primeiros, na fila do dia seguinte.

17. A vingança é um prato que se come frio, mas dê uma cheiradinha antes para ver se não está passado...

18. Quem vive pela espada, agora morre a tiros.

19. O poder corrompe, mas a impotência também.

20. Reconhecer o erro é fácil. Corrigi-lo é que são elas.

21. Perdoe o teu inimigo, mas não lhe vire as costas.

QUANDO A INTELIGÊNCIA É OBLITERADA (de Alma Welt)

Na sua interessante autobiografia intitulada "Confesso que vivi", o poeta chileno Pablo Neruda 1904-1973 (premio Nobel de Literatura de 1971) tem uma passagem infeliz quando revela com orgulho sua indignação e repulsa durante uma visita a um castelo inglês convidado pelo herdeiro, diante do manuscrito original autografado do célebre poema IF (Se) de Rudyard Kipling 1865-1936 (premio Nobel de 1907). Neruda assim se expressou diante do original emoldurado, numa parede, exibido como preciosidade: "Aquele poema imundo...". A mente revolucionária comunista, como de costume cheia de preconceitos, não conseguia perceber a beleza e a dignidade daquele código de conduta honrosa da mentalidade vitoriana inglesa, cheia da coragem e hombridade que conquistou um Império. Ao ler essa passagem percebi que Neruda via naquele poema apenas a antítese de seu socialismo pretensamente anti-imperialista, sem perceber o contexto histórico e a beleza intrínseca daquela poema apesar de essencialmente conceitual, coisa a que a poesia de Neruda também não escapa no seu marxismo ostensivo ou de entrelinhas.

A propósito: Neruda era stalinista, e admirava o maior genocida daqueles tempos.
Sim, o comunismo oblitera a inteligência até dos melhores...
(Alma Welt)
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Nota
Eis o poema IF (SE) de Rudyard Kipling na excelente tradução do Guilherme de Almeida 1890-1969, chamado o (quarto) "Príncipe dos Poetas Brasileiros".
Se
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!
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Por minha vez, apesar de admirar o poema de Kipling, me permiti fazer uma ligeira paródia dele no meu soneto IF:

IF (de Alma Welt)

Se do amor não te sobrou nenhuma flor
E seus acordes já nem soam, de vazios;
Se a lembrança não guardou nem o rancor
No teus vagos sonhos falsos, erradios;

Se teu maestro caiu da platibanda
E fincou-se-lhe a batuta no umbigo;
Se o teu fiel cachorro te debanda
Ou passou-se para o lado do inimigo;

Se tua hora da verdade é só mentira
E te descobres nem corda nem caçamba,
A pensar como o mundo roda e gira...

Então, meu amigo, foste humano:
Colecionas fracassos pra caramba,
E já podes ir pra casa a todo pano...
.
22/09/2013







segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

UNIVERSOS PARALELOS (de Alma Welt)

A meu ver os sonhos são nossas visões fragmentárias de um universo paralelo. Por isso neles nos vemos em lugares estranhos em que nunca estivemos e em situações que nunca vivemos. Quando alguns desses sonhos permitem alguma interpretação coerente é porque ainda somos nós, nesse outro universo estranho. Mas em geral essas visões não fazem nenhum sentido em relação ao nosso atual contexto, e algumas interpretações psicanalíticas são forçadas e até charlatanescas. Para realmente sabermos do que se tratam, seria preciso conhecermos o contexto desses fragmentos de situações ocorridas conosco, lá, naquele universo, que vistas de cá nos desnorteiam. É bom lembrar que a Física Quântica corrobora essa noção de universos paralelos, e esses físicos chegam a dizer (pasmem) que são em número de onze (!!!). Onze? Por quê? Como chegaram a esse número? Isso sim, me parece estranho...

(Alma Welt)


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 Fui tão agraciada pela vida, que quando fico triste fico também envergonhada.

(Alma Welt)

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Trovinhas da Alma Welt

Na vida cada um faz o que pode,
Não adianta fazer comparação;
para uns o diabo é aquele bode,
para outros o diabo é o coração.
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Plantei um girassol no meu jardim
esperando ele crescer para girar.
Cresceu, girou, olhou pra mim,
Surpresa, com vontade de chorar.
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Minha vida é um eterno retornar
à minha casa perfeita de menina,
e nisso está longe de acabar,
pois a perfeição nunca termina.
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Tenho dois namorados em disputa,
entre os dois meu coração balança.
Um perto de mim cede e amansa,
o outro simplesmente me diz puta.
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Meu pai me levava pra pescar...
Não que eu goste de peixe tanto assim,
mas eu preferia os ver nadar
ninguém merece de um anzol o triste fim.
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Para evitar depois de morta ser inútil,
comprei bilhete de poeta, de saída,
porque o resto me parecia fútil
com suas passagens só de ida.
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Minha bússola o Sul somente aponta
E houve quem comigo a quis trocar
Recusei por ser honesta ao lhe contar
que ela, de girar me deixa tonta.
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Monto no poente o meu cavalo
Mesmo sem sair da minha varanda.
Da cadeira de balanço o leve embalo
Cessa quando a estrela Dalva manda.
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ALMA WELT

terça-feira, 8 de setembro de 2020

O guri tímido (das Memórias de Alma Welt)

Quando eu tinha quinze anos entrei numa fase de grande timidez social e insegurança. Eu, que tinha sido muito desenvolta e até espevitada na infância, agora o convívio com guris e gurias da minha idade me era quase insuportável. Entretanto eu disfarçava bem, o que me fazia parecer o contrário, aparentando uma segurança que eu não tinha mais. De noite, no meu quarto, exausta pelo esforço dispendido durante o dia, chorava na cama, me odiando.
Um dia, me lembro bem, durante uma visita que fiz com meus pais a um nosso vizinho estancieiro que tinha filhos adolescentes, fomos deixados sozinhos pelos adultos numa sala ao lado para que confraternizássemos, conversássemos, brincássemos, sei lá. Eu, como sempre, afetava desenvoltura a ponto de intimidar alguns dos outros adolescentes. Havia um deles, um guri muito bonito, magro, com o cabelo amarrado em rabo de cavalo, que permanecia calado com os olhos ora pregados em mim, ora abaixados (depois eu soube ser o filho do nosso vizinho). Ele não abria a boca e eu não tinha ouvido o sequer o som de sua voz desde que entrara naquele cômodo. Os outros eram apenas gurias que palravam, me interpelavam e me ouviam curiosas, embora eu não me lembre do que eu falava. Os guris tinham se enturmado e saído daquele cômodo para jogar uma pelada no gramado, ou coisa assim. Entretanto tinha permanecido entre nós o tal garoto quieto, de olhos fixados em mim, ora abaixados como para disfarçar. De repente me cansei daqueles adolescentes e de todo aquele esforço e anunciei a minha partida. A ideia era ir para a sala dos adultos pedir aos meus pais para irmos embora. Comecei a me levantar de onde estava sentada, quando o guri demonstrando grande aflição de me ver prestes a partir, também se levantou, gaguejando e quase estendendo os braços como para me deter, balbuciou: "Como vo.. vo.. cê se... se chama? Qual... é... s ssseu nome? "
Eu fiquei furiosa. Falei num tom um pouco mais alto do que desejaria: "Como você não sabe o meu nome? Estou aqui há uma hora... estas gurias me interpelam, falam meu nome e você não sabe? Sou Alma!"
O guri, com lágrimas nos olhos fez um enorme esforço e disse: " Eu... sou tímido. Não consegui... Você é... tão linda .. não..." E deu um soluço, lutando visivelmente com o choro, enquanto as as gurias abafavam risinhos e exclamações.
Subitamente abrandada e enternecida ergui a mão e toquei a face do guri, e também desatei a chorar,dizendo: "Eu sei... Eu sei.. Está tudo bem... eu compreendo, eu também sou... tímida. E aproximando meu rosto sempre com a mão na sua face beijei-o nos lábios, levemente, docemente, e o abracei. Saímos dali, de mãos dadas, lentamente, agora sob o silêncio perplexo das gurias, em que julguei discernir alguns suspiros...

Querem que eu continue? Não sei se devo... pois isto foi apenas o prólogo de uma tragédia.
(Alma Welt)

sábado, 14 de dezembro de 2019

Acredito que nossos sonhos da noite são retalhos ou amostras de nossas vivências em alguma dimensão paralela, mas não simétrica, entre os inúmeros universos paralelos existentes. Daí serem quase sempre tão absurdos e amiúde frustrantes. Por exemplo: a minha vida é linda e meus sonhos ridículos. Eu teria vergonha de contá-los para um analista...
(entrevista com Alma Welt)
Sempre me pareceu que a vida amorosa e sexual de qualquer pessoa é matéria íntima e privada, ninguém tem que se intrometer. Incrível é precisar dizer isso, de vez em quando, ainda hoje...
(entrevista com Alma Welt)
"Nada em minha vida jamais foi passatempo. Não concebo a ideia de desperdiçar o Tempo, muito menos "matá-lo". Creio que o Tempo não perdoa, de algum modo, aqueles que assim o malbaratam. Entretanto, não me entendam mal, tempo para mim "não é dinheiro". Tempo, para mim é sagrado e perigoso... Sim, como Cronos, devorador impiedoso de seus filhos..."
(entrevista com Alma Welt)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Um amigo cheio de dúvidas me perguntou: "Onde encontrar Deus?" Eu respondi com convicção: "Na Beleza. Quando não for na de fora, será na de dentro." Ele insistiu: Mas, as pessoas feias, elas não contêm Deus? Eu respondi: "Sim, contêm, quando bonitas por dentro". Ele insistiu mais uma vez: "Mas a feiura, tão disseminada, não foi criada também por Deus? Eu respondi: "Tenho sérias dúvidas disso, também..."
(Alma Welt)

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Eu, guria pequena, achava linda a geada matinal sobre o campo, e perguntei a meu pai para quê ela servia, e por quê ela era tão mal vista pelos peões e os trabalhadores da vinha. Meu pai respondeu-me: "Alma, a geada foi feita para alertar-nos contra as coisas bonitas mas perigosas e destrutivas, que são muitas, na vida." - Quais são elas, Vati? - insisti. E ele respondeu: "As almas sedutoras e frias... Tu te depararás com elas eventualmente, minha filha... "
(Alma Welt)
Uma grande biblioteca é, a meu ver, uma das poucas acumulações não vergonhosas, assim como uma coleção de obras de arte. Meu pai tinha as duas, em casa, na estância, no Pampa. Sim, cresci no meio do melhor e cercada de amplitude. Sou uma privilegiada, e não me envergonho nem um pouco disso.
(Entrevista com Alma Welt)
Acrescentar sempre coisas bonitas e cheirosas à vida e ao nosso habitat do momento, é no mínimo uma questão de boa educação. De nobreza, mesmo.
(Entrevista com Alma Welt)
Eu sempre gostei muito de ler coisas sérias, romances clássicos, alguns sinistros, desde a infância. Entretanto fui uma criança alegre, à revelia de minha sorumbática mãe. Meu pai, homem culto e erudito, incentivava e até premiava a minha alegria...
(Entrevista com Alma Welt)
Minha mãe, a Açoriana, católica, acreditava que a vida é um Vale de Lágrimas. Entretanto, eu, nesse Vale, queria sorrir, brincar, cantar e escrever versos... Não gostava de chorar junto, o que me tornava uma espécie de rebelde...
(Entrevista com Alma Welt)

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Da Alegria

O ser humano não nasceu para ser triste. A tristeza se constitui como doença ou acidente de percurso. A alegria (não a euforia), reparem, dignifica o ser humano. Um ser alegre é bem vindo, muitas vezes comove ou queremos aprender algo com ele, não sabemos bem o quê, talvez o segredo mesmo da alegria, que deveria ser tão comum...
Entretanto, estamos perdendo a alegria, não aquela euforia carnavalesca, mas a simples alegria de sorrir à toa. Não o sorriso cáustico do sarcasmo, muito menos o riso sibilante do deboche, mas o simples sorriso infantil de aprovação à vida, de prazer e gratidão por existir...
(Entrevista com Alma Welt)

domingo, 10 de fevereiro de 2019

A Passagem do Tempo

"A passagem do tempo, invisível, imaterial, erode nosso corpo como o vento, a areia e as águas fazem às pedras. Ah! o atrito imponderável do Tempo... num mundo em que tudo é atrito, choque, desgaste, na Natureza como nas inúmeras instâncias do Ser... A quem poderemos queixar-nos? A Deus? Ao vento?"
Encostado numa grande árvore sagrada, assim dizia o filósofo que, de tão velho, se tinha transformado em poeta...
(Alma Welt)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Dos sonhos do sono

"Sempre tive a impressão de que nossos sonhos do sono são a evidência de um mundo real paralelo, tão absurdo, comezinho, ridículo, às vezes "surreal", outras coerente, lógico e banal como o nosso mundo de vigília. A simples existência desse paralelismo real é, em si, espantosa. Pra quê? Pra quê?Tanto mais que os sonhos, por sua multiplicidade de abordagens diversas, sugerem a existência não de um só, mas de muitos ou infinitos mundos paralelos, alguns aparentemente supérfluos ou tolos, outros esclarecedores e até proféticos. Notem que estou excluindo propositalmente, por inútil, a noção freudiana de inconsciente ou subconsciente. A teoria dos mundos ou "universos paralelos" me parece mais verdadeira, conquanto igualmente sem propósito. O mistério aparentemente idiota da nossa existência e seus mundos permanece. É melhor mesmo acreditarmos em Deus para nos darmos um sentido, pelo menos de beleza, a tudo isso..."
(Entrevista com Alma Welt)

sábado, 8 de dezembro de 2018

De tatuagens

Cristo, com sua morte nos ensinou que nosso corpo é sagrado, um pequeno templo de Deus. Uma pessoa que se tatua, é um pichador de monumentos, um vândalo ou iconoclasta, sem saber. Tenho-lhes piedade e horror... (Alma Welt)

sábado, 1 de dezembro de 2018

Um pequeno depoimento

"Quando, no meu autoexílio escolhido com a morte do Vati (pr. Fáti - Papai) fui viver na Pauliceia, eu só a conhecia através das obras do Mario de Andrade. Foi um choque, eu estava defasada, São Paulo não parecia mais nada daquilo, e eu custei a sintonizar-me com sua nova poesia, mais oculta, menos evidente. Para se conhecer São Paulo era preciso um intérprete, um outro poeta contemporâneo, que fosse paulista e que amasse aquela cidade difícil. O pintor e gravador Guilherme de Faria que me descobriu atarantada, disse não poder fazê-lo, mas me apresentou os sambas de Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa, que a princípio, apesar de nostálgicos me pareceram meio caricatos. Então percebi que o encanto de São Paulo, sua poesia, é essa mesma: uma auto-ironia cheia de saudades do seu passado provinciano, em meio a uma sofreguidão de progresso. Quando desvendei aquela cidade, escrevi meu livro confessional de contos urbanos paulistanos, os Contos da Alma, de Alma Welt, e deixei a cargo do Guilherme lançá-lo. O livro foi saudado pelo poeta Paulo Bomfim e pelo bibliófilo Dr.José Mindlin. Era o suficiente, e corri para o meu Pampa que eu não deixaria nunca mais..." 
(ALMA WELT)
"Minha mãe, a Açoriana, como eu a chamava, era anti-intelectual e antifeminista. Ela chegou a dizer uma vez que não gostava de me ver pensando muito porque isso acabaria com a minha beleza, que me causaria rugas e vincos na testa, e deixaria meus olhos vermelhos de tanto ler. Confesso que por um tempo temi essas coisas, até compreender que essas marcas são causadas pelo sofrimento ou pela vivência e experiência, e que a inteligência, a cultura e a sabedoria nada tinham a ver com elas. A beleza é efêmera mas podemos transferi-la e dar-lhe longevidade por nossos atos, pensamentos e obras, isto é, por uma "vontade de beleza" que nada deverá à cosmética. A Arte é essa vontade, a Poesia é esse resultado..." 
(Alma Welt)

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Para tornar a vida bela

"Convenhamos: a vida tal qual é... é um horror. Selvageria pura e sem sentido. Para tornar a vida bela e digna temos que fazer um esforço diário de imaginação e ideal. Cabe a nós recriar a vida, de preferência pela Arte e/ou pelo Amor. Imagino que Deus quer isto de nós, e por isso Ele fez a vida assim, cruel e caótica. O "livre arbítrio" não é senão isto: a prerrogativa de sermos também criadores do Bem e da Beleza." (Alma Welt)
A luta de um artista lúcido contra a tristeza e o desalento, é continuar criando beleza e verdade, contra uma maré permanentemente adversa. Nada corrobora o sonho do artista, que, a rigor, parece ingênuo e por vezes "inconveniente". O homem prático por vezes se admira, mas abana a cabeça: "São loucos esses artistas, parecem crianças grandes... Vamos falar de coisas sérias: qual é o "custo benefício" de tudo isso?" Assim fala o homem prático, eternamente contando dinheiro... (Alma Welt

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O Condestável Gottfried


Fragmentos do romance O Sangue da Terra, de Alma Welt)
O condestável Gottfried suspendeu a caçada, entregando sua balestra ao seu escudeiro e estendendo a mão enluvada, apanhou o bilhete que lhe trazia um pajem que chegara a galope. Leu, e em seguida amassou o bilhete, e com ele cerrado no punho deu rédeas ao cavalo, que por sua vez galopou de volta ao castelo.
O fidalgo, visivelmente irado, cruzou a ponte levadiça a galope, e apeando do cavalo ainda em movimento, atravessou parte do pátio, espantando as galinhas, e saltando alguns degraus adentrou o amplo portal, e a passos largos, como um furacão, foi direto à cozinha, onde encontrou Lady Margareth, a inglesa que desposara, depois de um tempestuoso caso diplomático que incluíra paixão e intrigas palacianas, e ali em frente aos cozinheiros, copeiras e outros serviçais, homens e mulheres, agarrou brutalmente sua esposa que quis esboçar um sorriso, mas logo assustada e horrorizada, foi virada de costas e inclinada sobre a grande mesa da cozinha, teve sua ampla saia e as suas sete anáguas levantadas e suas brancas nádegas expostas. Retirando seu imenso membro rubro e vibrante, da braguilha estourada, o duque enterrou-o de imediato e brutalmente no ânus rosado de sua mulher, que soltou um imenso grito, sodomizando-a, ali, na frente da criadagem. Depois do violento orgasmo, agarrou-a pelos longos cabelos ruivos e arrastou-a pelo salão e corredores, até o quarto, onde empurrou-a sobre a cama de dossel, desfigurada e em lágrimas, atirando-lhe por cima o bilhete amarfanhado, em seguida retirando-se imediatamente, sem nenhuma palavra, cerrou a porta, trancando-a por fora, à chave.
Lady Margareth engravidou depois daquela noite, e durante toda a sua gestação, corria no palácio, principalmente entre a criadagem, que fora fecundada pelo ânus, coisa que muitos testemunharam, e que a criança seria, portanto, “filha de Sodoma” e nasceria, literalmente “por ali.” Ao nascer, a criança foi arrancada aos braços da mãe e entregue a um casal de camponeses para que a criassem longe dali, mas ainda em terras do duque.
Minha avó Frida, que eu considerava uma espécie de bruxa, contou-me esta estória quando eu tinha doze anos, sem maiores considerações pela minha inocência, para explicar as origens camponesas de nossa família, que seria descendente, assim, de um duque e “condestável”, como ela o designava, justificando nosso retorno à posse de terras, embora tão distantes daquela Alemanha medieval onde estava a origem de tudo. Nunca saberei se ela inventava aquilo, mas o detalhe da sodomia me impressionava sobremaneira e presumo que o grotesco daquela cena se devia a uma necessidade de minha avó de rebaixar tão alta linhagem, para tornar mais verossímil a sua estória. Ela queria dizer que, de qualquer maneira, éramos de linhagem espúria, pois nosso antepassado tinha sido gerado e parido “por trás”, como os criados e camponeses acreditavam.
De qualquer maneira, qualquer que tenha sido a verdadeira história das origens da nossa família, eu não podia deixar de admirar instintivamente o cunho folclórico de tudo aquilo, e sobretudo, a veia satírica de minha avó, seu amor do grotesco, que ela evidenciava entremeando sua narrativa com gargalhadas finas, cacarejantes, que mostravam seus poucos dentes na boca horrenda e murcha. Eu tinha certeza que estava diante de uma bruxa, mas permanecia fascinada.
Muitos anos mais tarde, vim a saber que aquilo era possível, senão provável, pois o esperma de um homem corria longe, na sua procura do óvulo, e escorrendo sobre a vulva, a partir do orifício anal, poderia fecundar a mulher, e que isso ocorria mais freqüentemente, até hoje, do que as pessoas supunham. Na adolescência tive um período de medo de sentar-me na banca da privada, pois amiguinhas da escola me diziam que se podia engravidar, se um homem tivesse se sentado ali primeiro, sobretudo se o assento ainda estivesse quente. Tais superstições, todas com uma pequena base real, poderiam ter assombrado a minha infância e pré-adolescência, não fora a sabedoria de meu pai, que desvelava e explicava todos os fenômenos da natureza, sem roubar-lhes a poesia e mesmo a quota de mistério, subjacente a toda vida do homem sobre a terra.
Entretanto, apesar do caráter picaresco daquela estória, minha avó também queria embasar um pequeno mito corrente na família, e estendendo aquela sua mão ossuda, que parecia uma garra de pássaro, e tocando meus cabelos dourados, e minha face muito branca, disse, fechando a narrativa:
—Alma, tu és a prova da parte nobre da nossa linhagem, com tua aparência de princesa, assim como o Werner é a própria imagem do Condestável. Quanto a Solange e Lúcia, são a parte camponesa. O Rudolf, teu Rôdo? Bem, este é um caso à parte, que te contarei outro dia. Agora vai, vai princesinha, brincar no pequeno reino do teu jardim, que te coube, minha querida.
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